Os inquestionáveis progressos proporcionados
pela sociedade urbano/industrial não deixam dúvidas sobre a crescente
capacidade tecnológica do homem moderno.
Capacidade ampliada pelas tecnociências
e colocada, prioritariamente, a serviço da acumulação capitalista, na qual a natureza
não é valorizada por seus serviços ambientais, mas pela possibilidade de seus
elementos serem úteis e, portanto, convertidos em valor monetário. É o
reducionismo econômico, ou seja, nada tem sentido ou importância se não houver
possibilidade de conversão em dinheiro.
Esse modelo reforça, equivocadamente, a noção de que o homem é o
elemento mais importante do planeta (antropocentrismo), ao mesmo tempo em que
esvazia ou rompe com o sentimento de pertencimento ecológico, ampliando, cada
vez mais, o olhar utilitarista sobre a natureza. Esse rompimento do
relacionamento simbiótico com a natureza nos custou muito caro, pois contribuiu
para legitimar a apropriação desenfreada dos recursos. Tal lógica
exploracionista demonstra a insustentabilidade de nossas ações, pois esgota
rapidamente os recursos, comprometendo o ambiente atual e o das futuras
gerações. Desta forma, os problemas ambientais que hoje enfrentamos são reflexos
de uma crise da relação sociedade/natureza, uma crise do atual modelo
civilizatório.
Ainda não sabemos se a proposta
do desenvolvimento sustentável possui
a força para realizar as mudanças que precisamos, afinal ela não rompe com o sistema
hegemônico (o capitalismo) e sua racionalidade
que induz a sociedade ao consumismo e à competição predatória. Sua lógica não é
distributiva, nem socializante, mas assimetricamente acumulativa. Daí as brutais
diferenças socioeconômicas e as externalidades ambientais negativas agravadas
pelo receituário neoliberal. Por outro lado, existe também uma impossibilidade
prática, pois todo aumento na taxa de crescimento econômico mundial é
acompanhado por um consumo cada vez maior de recursos naturais e combustíveis fósseis.
Portanto, torna-se impossível crescer, indefinidamente, sem aumentar a “pegada
ecológica” num planeta onde os recursos são finitos. O resultado dessa equação
é o aumento crescente da entropia (desordem) na forma de poluição, degradação
dos recursos e escassez ecológica.
Precisamos de uma nova racionalidade
que reoriente nossa interação com o planeta, mas que também construa uma nova relação
entre os homens, objetivando uma sociedade mais justa e inclusiva. Uma transformação
profunda que produza um novo sentido para nossa existência, pois como nos
alerta o teólogo Leonardo Boff: “o
destino da espécie humana está associado, indissoluvelmente, ao destino do
planeta e do cosmos”.
Gerson Romero de Oliveira Filho é
geógrafo e professor de geografia.
Fonte: Tribuna de Minas