quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Discutindo a crise ambiental



Os inquestionáveis progressos proporcionados pela sociedade urbano/industrial não deixam dúvidas sobre a crescente capacidade tecnológica do homem moderno.  Capacidade ampliada pelas tecnociências e colocada, prioritariamente, a serviço da acumulação capitalista, na qual a natureza não é valorizada por seus serviços ambientais, mas pela possibilidade de seus elementos serem úteis e, portanto, convertidos em valor monetário. É o reducionismo econômico, ou seja, nada tem sentido ou importância se não houver possibilidade de conversão em dinheiro.  Esse modelo reforça, equivocadamente, a noção de que o homem é o elemento mais importante do planeta (antropocentrismo), ao mesmo tempo em que esvazia ou rompe com o sentimento de pertencimento ecológico, ampliando, cada vez mais, o olhar utilitarista sobre a natureza. Esse rompimento do relacionamento simbiótico com a natureza nos custou muito caro, pois contribuiu para legitimar a apropriação desenfreada dos recursos. Tal lógica exploracionista demonstra a insustentabilidade de nossas ações, pois esgota rapidamente os recursos, comprometendo o ambiente atual e o das futuras gerações. Desta forma, os problemas ambientais que hoje enfrentamos são reflexos de uma crise da relação sociedade/natureza, uma crise do atual modelo civilizatório.
                Ainda não sabemos se a proposta do desenvolvimento sustentável possui a força para realizar as mudanças que precisamos, afinal ela não rompe com o   sistema hegemônico (o capitalismo) e sua racionalidade  que  induz  a sociedade ao consumismo  e à competição predatória. Sua lógica não é distributiva, nem socializante, mas assimetricamente acumulativa. Daí as brutais diferenças socioeconômicas e as externalidades ambientais negativas agravadas pelo receituário neoliberal. Por outro lado, existe também uma impossibilidade prática, pois todo aumento na taxa de crescimento econômico mundial é acompanhado por um consumo cada vez maior de recursos naturais e combustíveis fósseis. Portanto, torna-se impossível crescer, indefinidamente, sem aumentar a “pegada ecológica” num planeta onde os recursos são finitos. O resultado dessa equação é o aumento crescente da entropia (desordem) na forma de poluição, degradação dos recursos e escassez ecológica.
                Precisamos de uma nova racionalidade que reoriente nossa interação com o planeta, mas que também construa uma nova relação entre os homens, objetivando uma sociedade mais justa e inclusiva. Uma transformação profunda que produza um novo sentido para nossa existência, pois como nos alerta o teólogo Leonardo Boff: “o destino da espécie humana está associado, indissoluvelmente, ao destino do planeta e do cosmos”.
Gerson Romero de Oliveira Filho é geógrafo e professor de geografia. 

Fonte: Tribuna de Minas

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