quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O desafio do lixo

Um dos problemas ambientais mais desafiadores é o lixo. Podemos  entendê-lo como subproduto do metabolismo das cidades, ou seja, a sociedade descarta rejeitos e objetos que não funcionam ou cuja  vida útil foi encurtada pela obsolescência planejada. No entanto, a geração de lixo é inevitável, uma vez que precisamos consumir para sobreviver. O problema é que,  além de uma necessidade natural de consumo,  existem também as atitudes consumistas  impulsionadas pelas estratégias de mercado através da  publicidade e propaganda. Essas criam verdadeiras armadilhas que nos induzem ao consumo insustentável, ou seja, consumimos mesmo quando não precisamos. O resultado é o desperdício e a produção de mais lixo. Essa cultura do descartável esgota os recursos naturais e reduz a vida útil dos aterros sanitários. A Lei nº 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos  fixou  princípios, objetivos e instrumentos importantes para solução ou mitigação desse problema. Podemos destacar quatro pontos importantes nesta política. Primeiro, a ênfase na pedagogia dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Em segundo, a proibição dos lixões que  deverão ser substituídos pelos aterros sanitários. Esses representam a forma  mais adequada para dispor os  rejeitos, uma vez que possuem procedimentos  técnicos e operacionais que impedem a contaminação do solo pelo chorume e ainda controlam as emissões de gás metano. Em terceiro, oficializa-se a obrigatoriedade da implantação da logística reversa para produtos como pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio; produtos eletroeletrônicos e embalagens de agrotóxicos. As empresas terão que se preocupar  com o pós-consumo e criar  estratégias para viabilizar a coleta e o retorno dos resíduos sólidos  que possam ser reaproveitados em seus ciclos produtivos. Por último, a referida lei também determina  que os municípios elaborem seus planos de gestão integrada de resíduos sólidos. São medidas importantes que devem vigorar a partir  de 2014. Mas será que estamos preparados para implementá-las? Os municípios brasileiros contam com recursos financeiros e quadros técnicos suficientes? As empresas (nacionais e estrangeiras) estão preparadas para implementar a logística reversa em um país de dimensões continentais, que, atualmente, já conta com 5570 municípios?  Apesar dos questionamentos, acreditamos que este seja o caminho mais adequado no momento. Por outro lado, ratificamos que só as medidas legais e técnicas não serão suficientes.  Estamos diante de um problema de natureza  complexa. É necessário, sobretudo, implementar uma  educação ambiental crítica e transformadora capaz de produzir efeitos  duradouros e eficazes junto à sociedade. Não podemos cair na tentação de nos apoiar somente em medidas politiqueiras  e simplificadoras que  criam  leis para vigiar e punir cidadãos com multas, instituindo a pedagogia do medo. A multa seria o último recurso. Precisamos repensar e mudar os valores culturais responsáveis pelo atual estilo de vida consumista e predatório. O lixo representa apenas um aspecto da crise ambiental que atinge o planeta, uma crise profunda que vem questionar a nossa relação com a natureza e, sobretudo, o sentido de nossa existência.    
Gerson Romero de Oliveira Filho – Geógrafo e professor do curso de Ciências Biológicas do CES/JF.

Artigo publicado no jornal Tribuna de Minas no dia 29/01/14.

Nenhum comentário:

Postar um comentário